Memória dum Mundo Perdido III – A ideia da Europa

Em 2015, então na Universidade Lusófona, no âmbito do Doutoramento em Museologia onde então colaborava, organizei vários debates sobre Problemas Contemporâneos. Os debates, sobre a forma de seminários aberto ao público, eram acompanhados duma exposição que enquadram o tema em discussão. Num desses debates, abordamos a questão da Ideia da Europa.

Hoje o tema está na ordem do dia. Há época talvez não fosse tão óbvio, e talvez por isso os alunos e os professores do departamento de museologia bridaram por uma reconfortante alheamento, focados que estavam então na “crise brasileira”, que teve o desenlace que todos conhecemos

Recordo-me que a exposição, embora modesta interrogava o lugar da cultura nas políticas europeias. Na altura discutia-se entre as organizações culturais europeias o Lugar da Cultura no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a “Política Cultural Europeia”.

É natural que este termo “Politica Cultural Europeia” tenha que ser usado com muitas cautelas, já que à época poucos instrumentos estavam disponíveis.

Mas independentemente da questão em concreto da política cultural europeia, procurou-se analisar o contexto da Europa para entender as suas políticas.

A ideia de Europa é uma construção social. É certo que é uma figura mitológica e uma região geográfica (onde subsistem algumas dúvidas sobre a sua natureza continental) Não existem registos históricos duma entidade política com este nome. A realidade política da Europa – União Europeia surge à pouco mais de sessenta anos (1947) em torno duma necessidade económica (A Comunidade Económica do Carvão e do Aço) de livre circulação dos recursos essenciais para as indústrias pesadas.  Uma entidade que cresceu e se ampliou até quilo que hoje conhecemos, de entidade supra nacional.

É certo que essa tal entidade, procurou legitimar uma memória. Alicerçar-se no seu passado, para se justificar na forma. Se é certo que foi nesse espaço que surgiu a ideia da Nação e das suas instituições representativas (soberania), é necessário não esquecer que ao longo dos últimos dois mil anos, esse continente foi palco das mais mortíferas e constantes ações bélicas que as sociedades humanas desenvolveram. Não lhe foram exclusivas, mas aqui ganharam dimensões e irradiaram para todo o mundo, tal como as suas ideias políticas.

Em suma: Essa europa que conhecemos entre guerras e paz, entre Impérios e Nações, entre Cidades-Estado e Comunidades autónomas com identidades culturais bem vincadas, é hoje esta nossa Europa.

Uma “União Europeia” onde é hoje evidente uma profunda crise, onde os problemas são resolvidos com dinheiro e autoritarismo.

Publicado por Pedro Pereira Leite

Dinamizador do Museu Educação Global e Diversidade Cultural Museu Afro Digital - Portugal. Museu da Autonomia.

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