Museu da Autonomia

Numa das propostas de museologia social que fizemos em 2020 (https://recil.grupolusofona.pt/bitstream/10437/11729/1/sementes1redux.pdf) apresentamos a criação duma galeria ou jardim de Poetas num para equipamento dos museus nacionais. (Panteão Nacional). Recolhemos na altura algumas ideias com o intuito de mais tarde desenvolver esse projeto no espaço público, como alternativa à natureza da “celebração da morte” que o equipamento mostra. Procurava-se com este projeto celebrar a vida através da criatividade dos “portugueses ilustres”, tendo na altura da proposta exemplificado com os poetas.

Tendo-se gorado em concurso público essa proposta, aproveitamos o trabalho feitos para desenvolver uma galeria digital.

Por que fazer isso?

Ao longo dos anos de observação sobre os processos de museologia social, fomos notando que havia uma ausência sistemática das tradições e poéticas da oralidade.

A linguagem e em particular a língua é a ferramenta da formulação dos enunciados. A liberdade é primeiramente expressa na fala. E em particular é cantada para melhor se configurar no mundo. Cantada é poesia pura.

Mas o seu contrário, a opressão é também expressa através da fala. Essa simples evidência, da dimensão opressiva do discurso, foi ao longo da história também um instrumento de dominação. Por essa razão, a linguagem é simultaneamente um instrumento de liberdade ou de opressão.

Contudo, a sua expressão poética é sempre uma expressão de liberdade. Franz Fanon no seu Libro “Peles Negras – Mascaras Brancas” desmonta alguns dos esteriótipos que fundam os Estudo Decoloniais.   (https://museueducacaodiversidade.com/galeria-educadores/#jp-carousel-1996). Como temos vindo a defender, nos dias de hoje, não basta declarar e reconhecer os processos de dominação do outro. É necessário construir alternativas.

Por essa razão, e com esse objetvo, porque a poética representa  o potencial libertador da palavra afirmando  a utopia e autonomia crítica abordamos os jograis e trovadores d alibserdade em lingua portuguesa.

Como fazemos isso?

Há contudo uma advertência a fazer. Não se trata duma galeria anódina. Não procuramos fazer um repositório. É uma busca pelo potencial libertador da poesia na sua forma cantada. A balada e a trova como ação. Tratou-se de fazer um ensaio de pensar como a autonomia se exprime na sua forma utópica através da poética

Recolhemos ao longo do tempo algumas ideias sobre as possibilidades de projeto. Logo em primeiro lugar, não podíamos deixar de considerar o Jardim dos Poetas em Oeiras (https://parquedospoetas.cm-oeiras.pt/). Na sua forma de Parque Urbano, fomos acompanhando ao longo dos anos a sua evolução. Um verdadeiro jardim de poesia desenvolvia-se naquela encosta soalheira, voltada para o Tejo. O Horto de Camões, em Constância (http://www.cm-constancia.pt/index.php/pt/visitar/cultura/monumento-a-camoes-e-jardim-horto) foi outro dos equipamentos que referenciei. Desenhado por Ribeiro Teles, dedicado às viagens de Camões pela flora do mundo inspirou-me algumas atividades museológicas.

(https://www.researchgate.net/publication/318495472_A_poetica_num_convite_para_um_Cha_no_Jardim_Botanico_da_Politecnica_A_viagem_como_catalisador_da_transitoriedade_na_museologia).

Ao longo da recolha que fomos fazendo, nomeadamente na busca do seu conceito gerador, acabamos por tomar consciência da génese dual da prática trovadoresca e jogral. Isto é como vários autores notaram, se a prática da trova se fazia em ambiente aristocrático, de exaltação do amor cortês e da amizade cavalheiresca; a prática jogral já se fazia num ambiente popular, como forma de vida nos lugares com vida.

Quer os trovadores quer os jograis cantavam (com musica e palavras) a vida vivida. E sobre ela instalou-se, no discurso analítico, essa esta dualidade consubstanciada na dicotomia entre aristocracia e povo. E é partir dela que juntamos a terceira relação, sobre a afirmação da língua portuguesa.

Sabemos que a língua é uma expressão duma sensibilidade duma comunidade. E é sobre esta relação entre o povo e a liberdade de expressão do pensamento na sua língua materna (como hoje dizemos) que pensamos o conceito gerador desta galeria.

Sobre esta tripla relação (Aristocracia/Povo/Liberdade) procuramos criar uma narrativa sobre a expressão da poética da liberdade. Com efeito se os vilãos e infanções participaram na criação duma comunidade da valores, expressos através duma língua singular, e por isso uma expressão libertadora, interessa-nos desvelar as diversas formas como foi apropriada pelas comunidades da língua.

Os momentos políticos da afirmação da dimensão política da autonomia serão ou não coincidentes com a maior criatividade da balada? Haverá uma coincidência entre a utopia e a vontade de autonomia, seja na afirmação da vontade política, seja no âmbito da ação política?

Não podemos naturalmente deixar de lado a dimensão política da afirmação duma língua sobre outras línguas. Por exemplo, não podemos esquecer que esse tempo dos jograis é um tempo de tensão entre cristandade e islão. Um tempo de onde via emergir uma língua única, que por sua vez será transportada para outras paragens, onde ela será instrumento de dominação, mas também, a partir de certa forma, de libertação. Afinal os crioulos serão também eles forma de apropriação dos outros, formas de dominação e libertação.

Sem espaço físico de instalação o conceito desenvolve-se na sua forma digital em torno do conceito da ação poética para a autonomia critica. Nesse sentido toma a forma duma galeria do museu Educação e Diversidade cultural.

A quem se destina a galeria de trovadores e jograis?

A ideia inicial desta galeria é criar uma comunidade digital em torna do projeto. Trata-se duma ideia em desenvolvimento que a seu tempo será apresentada e detalhada.